O terceiro dia é dedicado a outros abraços próximos, à conversa que é preciso pôr em dia com amigos que fazem parte da minha história e do meu percurso. O dia amanhece cinzento, como são os dias típicos desta cidade, com cheiro a humidade e a neblina. A temperatura desce e um casaco a mais apetece. Prolongo o passeio até à Cantareira e tenho acesso a um outro aspeto da cidade, mais calmo e tranquilo do que o agitado centro urbano, onde se pode ver o rio mais próximo da foz, enquanto se saboreia um café numa esplanada.
Passam-se três dias num ápice e é tempo de regressar, trago na bagagem uma enorme gratidão, uma energia que me percorre o corpo e me faz pensar que precisamos de paragens para carregar baterias, sair das rotinas e entregarmo-nos a atividades que nos preenchem e nos devolvem o retorno do quanto andamos a dar de nós. Regresso a Lisboa serena, com a certeza que logo que possa irei voltar…
Dia: abril 14, 2017
Porto Mágico – Parte II



Café Noémia da Costa Pinto
Desço novamente para a baixa e sigo para o Café Noémia da Costa Pinto. Um espaço agradável localizado na rua Formosa, nº386, no primeiro andar. Quando se sobe as escadas de madeira e se acede ao espaço, temos a sensação de estar a viajar no tempo e de entrar na sala de estar de uma casa antiga, decorada em estilo de anos 30. Longos sofás em pele e em veludo, vermelho e verde, mesas redondas de tampo de mármore, com pés em ferro trabalhado, um aparador ao centro, em madeira, e objectos de outras épocas decoram a sala virada para a rua, bastante iluminada.
Nas traseiras possui um pequeno jardim, onde se pode tomar um café e deliciarmo-nos com os gatos que por lá andam a aproveitar o dia sossegadamente ao sol, com lânguidos movimentos de sesta e de preguiça. No andar superior existe também uma Guest House.
Por não ter praticamente ninguém antes da hora de almoço, é ideal para quem trabalha no computador, possuindo rede wi-fi disponível. Além de ser um espaço sóbrio e elegante ainda proporciona um excelente ambiente para escrever.


Esta mulher exala coragem e determinação pelos poros e revela-me durante a nossa conversa a paixão que sempre teve pelo mundo dos livros e das artes, considerando-se uma ativista de causas sociais e culturais. Presentemente desempenha atividades relacionadas com a organização e gestão de eventos e workshops e de networking informal na Brands in Motion. Este projecto nasceu em 2014 e tem como missão apoiar empreendedores e a criação de redes sociais que promovam sinergias entre vários parceiros.
A tarde é ocupada a frequentar um workshop «Wordpress, ferramenta para divulgar o teu objetivo» na Cidade das Profissões, com o formador Pedro Fonseca. Conheço este espaço da cidade, vocacionado para a vida profissional e o mundo do trabalho, promovido pela Câmara Municipal do Porto e aproveito para fazer esta formação (todos os workshops são gratuitos e possuem uma enorme oferta), dirigida sobretudo a empreendedores e curiosos na área dos blogs. Consolido conhecimentos e fico a saber mais sobre a construção destes diários digitais. O entusiasmo do formador é contagiante.
Finalizado o workshop há tempo para um café e um pastel de nata no café Mercator, na Rua das Flores, que se percebe ser um antigo armazém convertido agora em café. Às segundas e quartas este espaço torna-se também o local indicado para jantar e se ouvir cantar o fado. Prolongo-me apenas o tempo necessário e apresso-me para ir até à Ribeira, pois ir ao Porto sem ir à Ribeira, é como ir a Roma e não ver o Papa.

Shambala e o Círculo de Mulheres “Despertar da Deusa”
A Shambala localiza-se no 3º andar do nº65 da Rua da Picaria. Subo as escadas e encontro um espaço perfumado a incenso, com uma ambiência calma e serena. As mulheres vão chegando. Conhecem-se, abraçam-se com intensidade e sorriem entre elas, revelando uma cumplicidade já partilhada anteriormente. Eu observo-as enquanto forasteira na cidade e no espaço, mas sinto uma enorme vontade de comungar do mesmo espírito com elas.
Ao entrar na sala onde decorre o círculo percebo que se respira uma paz enorme. O altar montado no centro da sala, com elementos da natureza é de uma enorme beleza. Conectamo-nos a ele através daquilo que a ele emprestamos de nosso.
O tempo ali vivido afasta-nos da ditadura do relógio e do que se passa no mundo exterior, conecta-nos com um outro mundo mais profundo, em que não tememos revelar a essência do que somos perante os olhos de outras mulheres. Ali naquele momento e naquele espaço o nosso objectivo é ser e sentir o que nos define. A minha dor, é a dor da mulher que me olha e atravessa a alma, a minha luz é a luz que irradia da outra. São momentos mágicos, consagrados ao feminino, onde não existe a competição, a mesquinhez ou a inveja que muitas vezes encontramos no nosso dia-a-dia, sobretudo em muitos universos profissionais onde trabalham muitas mulheres. Enquanto a sessão decorre penso nisso, em como nós mulheres podemos tantas vezes ser tão vis umas com as outras, quando na verdade a nossa essência é a mesma. E com muita compaixão, muita entrega, muita autenticidade, todos os problemas poderiam ser resolvidos.
Já é muito tarde, fico sem bateria no telemóvel, mas ainda há uma visita para fazer, uma visita importante que me permite recuar no tempo 20 anos, quando era jovem professora universitária e tinha todas as esperanças do mundo a percorrer-me as entranhas. Visito as pessoas que me acolheram nesse período. É bom revê-las, foram muito importantes para mim, para a minha história e desabrochar. Fico um curto tempo, mas aconchega-me muito o afeto com que sempre me recebem. É bom termos pessoas assim nas nossas vidas, generosas, dedicadas, de sorriso e conversa fácil.
Retomo ao hotel, exausta de tanta experiência, de tanto enriquecimento. Não há dúvidas que esta visita ao Porto tem sido mágica e um autêntico deambular de palavras e momentos. Fecho os olhos e estou em paz.
Porto mágico: Uma deambulação através das palavras viajantes – Dia 1

Dia 1 – A chegada
Eis-me de volta ao Porto, cidade em que me tornei uma mulher independente, quando aos 23 anos, recém-licenciada em Antropologia, respondi a um concurso para professora na Faculdade de Belas Artes.
Lembro-me que nessa altura chegar à cidade foi um fascínio, era a primeira vez que estava por minha conta, fora da minha cidade e tinha uma enorme responsabilidade diante de mim: ensinar Antropologia numa universidade, quando ainda tinha tanto para aprender. Lembro-me perfeitamente do impacto que senti, quando entrei no auditório da Faculdade de Belas Artes, uma sala enorme, ainda à antiga, com cadeiras de madeira, e ter pensado: “E agora?”.
A essa experiência sucederam-se outras, procurando conhecer a cidade num curto espaço de tempo, de modo a toná-la também um pouco minha. Rapidamente dominei o nome das ruas e os itinerários dos locais mais emblemáticos, que ia assinalando numa planta da cidade do Porto que comprara na antiga livraria Sá da Costa, em Lisboa.
Voltei sempre ao Porto, de ano a ano, ou às vezes com maior intervalo de tempo, cada viagem geralmente com uma finalidade. Desta vez, percebo que o que me traz ao Porto é um objetivo bem diferente, conciliado com o propósito que tenho vindo a desenvolver no último ano: inspirar, motivar e deixar-me contagiar. Foi com essa intenção que decidi facilitar um workshop de escrita criativa, apetecia-me ir ao Porto para deixar um pouco a marca da Mad About Dreams, estimular a capacidade criativa que cada um de nós tem ao seu alcance. Foi nesse sentido, que depois de uma pesquisa na internet descobri a Brands in Motion e a Isaura Santos, que me proporcionou realizar esse sonho, mais um…o de fazer um workshop no Porto. O céu é mesmo o limite quando nos permitimos sonhar.
Nestes dias decidi fazer itinerários alternativos pelo Porto, que me permitissem descortinar uma outra cidade, mais criativa, inspiradora e espiritual, sobre os quais irei dar falar e sugerir para que possam descobrir.
Bar Espiga
Foi no Bar Espiga que decorreu o workshop de escrita criativa «A Palavra viajante», da Mad About Dreams. Este espaço tem imensas potencialidades, fica situado na Rua Clemente Menéres, 65 A, mas não é algo que salte à vista, nem esteja visivelmente identificado no lado exterior. Dentro do bar existe uma pequena livraria temática sobre viagens, «Muita terra» e ao fundo possui um pequeno terraço onde se pode tomar um café ou beber um copo num ambiente mais fresco e descontraído. Além de acolher eventos e workshops, possui também uma actividade regular intitulada «Viagem ao Mundo (sem sair do sofá)», que funciona como tertúlia e estimula a conversa em torno da arte de viajar.

Despedimo-nos e celebrámos a alegria de termos voltado a estar juntas. Sabe bem ter pessoas “sol”, assim na nossa vida.(continua)
Em modo semente…
A Primavera chegou e aí está com toda a sua pujança. É tempo de novas esperanças, de sair do casulo do inverno, de novos começos e novos desafios. É a estação de lançar as sementes à terra, de plantar o que iremos colher futuramente.
Se queremos que as nossas plantas cresçam viçosas e bonitas, há que investir primeiro no tratamento da terra, adubá-la para a tornar fértil, escolher as sementes que queremos plantar e só depois semear.
Tal como acontece na natureza, o mesmo sucede connosco e com os nossos sonhos. Há um tempo para nos interrogarmos sobre o que queremos alcançar na vida, e um momento em que estabelecemos objetivos para realizarmos os nossos sonhos. Mas, entre um momento e outro, há um compasso de tempo em que se cuida primorosamente do que se plantou. É nessa fase que devemos trabalhar constantemente a nossa motivação, o nosso empenho, a nossa dedicação, deitando abaixo os medos e as ansiedades e sobretudo ser paciente. Tal como a terra tem de ser regada cautelosamente para que a semente germine e brote, é preciso cuidar dos nossos sonhos com carinho, atenção, foco e persistência todos os dias. Nessa altura, é importante não perder a fé e a confiança, ainda que não se vejam ainda resultados, aceitar que nada é instantâneo na nossa vida. Sempre ouvi dizer que saber esperar é uma grande virtude, por isso há alturas em que parece que nada acontece, nada evolui, nem se revela, apesar de continuarmos sistematicamente a alimentar os nossos sonhos. Este é o chamado «tempo de espera». Nem sempre o aceitamos muito bem, porque queremos tudo para ontem, sobretudo quando sabemos que estamos a dar tudo por tudo, e as situações estão a levar muito tempo para serem realizadas. Quando sentimos que estamos a atravessar um longo deserto que não há maneira de acabar, temos de aprender a lidar com esse «tempo de espera» com uma atitude positiva, paciente, aceitando que por vezes o tempo pode ser lento a manifestar-se, a colocar tudo no seu lugar.
Antes que as coisas aconteçam, pode ser necessário arrumar gavetas e arquivar situações do passado, limpar experiências que nos fizeram doer, fazer um reset e começar do zero, para que quando acontecerem nós estejamos realmente preparadas e com uma energia diferente. É por isso que não adianta muito querer que os sonhos se realizem fora do seu tempo, do seu momento, pois não seria saboreado da mesma maneira.
Por isso, não te inquietes se sentires que estás há demasiado tempo à espera, não te frustres, nem desesperes, cultiva em ti pensamentos positivos durante esse processo, acalma a mente, tudo se há-de compor na altura certa. Não sintas ansiedade porque o relacionamento que desejavas não chega, porque não consegues o emprego ou a promoção que precisas, porque ainda não é este ano que mudas de casa, ou porque o momento de engravidar ainda não chegou…entre tantos outros sonhos que podes estar à espera.Não tenhas pressa, desacelera o teu ritmo, faz as coisas que te dão prazer e preenchem, abstrai-te das pressões e não desistas, persiste, insiste todos os dias. Quando não esperares, se alimentares a semente, ela germinará e tudo ao teu redor mudará. Nesse dia, em que vires o teu sonho a brotar vais entusiasmar-te e perceber que na vida, tudo tem um “tempo perfeito”.
Se o resultado, não for bem aquele que pretendias não te deixes abater, pois os objectivos que estabelecemos muitas vezes não se atingem do modo como idealizamos para que possamos realizar outros. Os chamados percalços do percurso nem sempre são negativos, levando-nos por vezes a situações muito melhores do que as que planeámos, introduzindo nas nossas vidas momentos inusitados que se revelam extremamente interessantes. Por tudo isso, deixa-te ser semente, semeia por onde quer que vás, pois quem bem semear, melhor há-de colher. Tudo a seu tempo, no tempo certo. Boas sementeiras! Aproveitem a Primavera!