O terceiro dia é dedicado a outros abraços próximos, à conversa que é preciso pôr em dia com amigos que fazem parte da minha história e do meu percurso. O dia amanhece cinzento, como são os dias típicos desta cidade, com cheiro a humidade e a neblina. A temperatura desce e um casaco a mais apetece. Prolongo o passeio até à Cantareira e tenho acesso a um outro aspeto da cidade, mais calmo e tranquilo do que o agitado centro urbano, onde se pode ver o rio mais próximo da foz, enquanto se saboreia um café numa esplanada.
Passam-se três dias num ápice e é tempo de regressar, trago na bagagem uma enorme gratidão, uma energia que me percorre o corpo e me faz pensar que precisamos de paragens para carregar baterias, sair das rotinas e entregarmo-nos a atividades que nos preenchem e nos devolvem o retorno do quanto andamos a dar de nós. Regresso a Lisboa serena, com a certeza que logo que possa irei voltar…
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Porto Mágico – Parte II



Café Noémia da Costa Pinto
Desço novamente para a baixa e sigo para o Café Noémia da Costa Pinto. Um espaço agradável localizado na rua Formosa, nº386, no primeiro andar. Quando se sobe as escadas de madeira e se acede ao espaço, temos a sensação de estar a viajar no tempo e de entrar na sala de estar de uma casa antiga, decorada em estilo de anos 30. Longos sofás em pele e em veludo, vermelho e verde, mesas redondas de tampo de mármore, com pés em ferro trabalhado, um aparador ao centro, em madeira, e objectos de outras épocas decoram a sala virada para a rua, bastante iluminada.
Nas traseiras possui um pequeno jardim, onde se pode tomar um café e deliciarmo-nos com os gatos que por lá andam a aproveitar o dia sossegadamente ao sol, com lânguidos movimentos de sesta e de preguiça. No andar superior existe também uma Guest House.
Por não ter praticamente ninguém antes da hora de almoço, é ideal para quem trabalha no computador, possuindo rede wi-fi disponível. Além de ser um espaço sóbrio e elegante ainda proporciona um excelente ambiente para escrever.


Esta mulher exala coragem e determinação pelos poros e revela-me durante a nossa conversa a paixão que sempre teve pelo mundo dos livros e das artes, considerando-se uma ativista de causas sociais e culturais. Presentemente desempenha atividades relacionadas com a organização e gestão de eventos e workshops e de networking informal na Brands in Motion. Este projecto nasceu em 2014 e tem como missão apoiar empreendedores e a criação de redes sociais que promovam sinergias entre vários parceiros.
A tarde é ocupada a frequentar um workshop «Wordpress, ferramenta para divulgar o teu objetivo» na Cidade das Profissões, com o formador Pedro Fonseca. Conheço este espaço da cidade, vocacionado para a vida profissional e o mundo do trabalho, promovido pela Câmara Municipal do Porto e aproveito para fazer esta formação (todos os workshops são gratuitos e possuem uma enorme oferta), dirigida sobretudo a empreendedores e curiosos na área dos blogs. Consolido conhecimentos e fico a saber mais sobre a construção destes diários digitais. O entusiasmo do formador é contagiante.
Finalizado o workshop há tempo para um café e um pastel de nata no café Mercator, na Rua das Flores, que se percebe ser um antigo armazém convertido agora em café. Às segundas e quartas este espaço torna-se também o local indicado para jantar e se ouvir cantar o fado. Prolongo-me apenas o tempo necessário e apresso-me para ir até à Ribeira, pois ir ao Porto sem ir à Ribeira, é como ir a Roma e não ver o Papa.

Shambala e o Círculo de Mulheres “Despertar da Deusa”
A Shambala localiza-se no 3º andar do nº65 da Rua da Picaria. Subo as escadas e encontro um espaço perfumado a incenso, com uma ambiência calma e serena. As mulheres vão chegando. Conhecem-se, abraçam-se com intensidade e sorriem entre elas, revelando uma cumplicidade já partilhada anteriormente. Eu observo-as enquanto forasteira na cidade e no espaço, mas sinto uma enorme vontade de comungar do mesmo espírito com elas.
Ao entrar na sala onde decorre o círculo percebo que se respira uma paz enorme. O altar montado no centro da sala, com elementos da natureza é de uma enorme beleza. Conectamo-nos a ele através daquilo que a ele emprestamos de nosso.
O tempo ali vivido afasta-nos da ditadura do relógio e do que se passa no mundo exterior, conecta-nos com um outro mundo mais profundo, em que não tememos revelar a essência do que somos perante os olhos de outras mulheres. Ali naquele momento e naquele espaço o nosso objectivo é ser e sentir o que nos define. A minha dor, é a dor da mulher que me olha e atravessa a alma, a minha luz é a luz que irradia da outra. São momentos mágicos, consagrados ao feminino, onde não existe a competição, a mesquinhez ou a inveja que muitas vezes encontramos no nosso dia-a-dia, sobretudo em muitos universos profissionais onde trabalham muitas mulheres. Enquanto a sessão decorre penso nisso, em como nós mulheres podemos tantas vezes ser tão vis umas com as outras, quando na verdade a nossa essência é a mesma. E com muita compaixão, muita entrega, muita autenticidade, todos os problemas poderiam ser resolvidos.
Já é muito tarde, fico sem bateria no telemóvel, mas ainda há uma visita para fazer, uma visita importante que me permite recuar no tempo 20 anos, quando era jovem professora universitária e tinha todas as esperanças do mundo a percorrer-me as entranhas. Visito as pessoas que me acolheram nesse período. É bom revê-las, foram muito importantes para mim, para a minha história e desabrochar. Fico um curto tempo, mas aconchega-me muito o afeto com que sempre me recebem. É bom termos pessoas assim nas nossas vidas, generosas, dedicadas, de sorriso e conversa fácil.
Retomo ao hotel, exausta de tanta experiência, de tanto enriquecimento. Não há dúvidas que esta visita ao Porto tem sido mágica e um autêntico deambular de palavras e momentos. Fecho os olhos e estou em paz.
Porto mágico: Uma deambulação através das palavras viajantes – Dia 1

Dia 1 – A chegada
Eis-me de volta ao Porto, cidade em que me tornei uma mulher independente, quando aos 23 anos, recém-licenciada em Antropologia, respondi a um concurso para professora na Faculdade de Belas Artes.
Lembro-me que nessa altura chegar à cidade foi um fascínio, era a primeira vez que estava por minha conta, fora da minha cidade e tinha uma enorme responsabilidade diante de mim: ensinar Antropologia numa universidade, quando ainda tinha tanto para aprender. Lembro-me perfeitamente do impacto que senti, quando entrei no auditório da Faculdade de Belas Artes, uma sala enorme, ainda à antiga, com cadeiras de madeira, e ter pensado: “E agora?”.
A essa experiência sucederam-se outras, procurando conhecer a cidade num curto espaço de tempo, de modo a toná-la também um pouco minha. Rapidamente dominei o nome das ruas e os itinerários dos locais mais emblemáticos, que ia assinalando numa planta da cidade do Porto que comprara na antiga livraria Sá da Costa, em Lisboa.
Voltei sempre ao Porto, de ano a ano, ou às vezes com maior intervalo de tempo, cada viagem geralmente com uma finalidade. Desta vez, percebo que o que me traz ao Porto é um objetivo bem diferente, conciliado com o propósito que tenho vindo a desenvolver no último ano: inspirar, motivar e deixar-me contagiar. Foi com essa intenção que decidi facilitar um workshop de escrita criativa, apetecia-me ir ao Porto para deixar um pouco a marca da Mad About Dreams, estimular a capacidade criativa que cada um de nós tem ao seu alcance. Foi nesse sentido, que depois de uma pesquisa na internet descobri a Brands in Motion e a Isaura Santos, que me proporcionou realizar esse sonho, mais um…o de fazer um workshop no Porto. O céu é mesmo o limite quando nos permitimos sonhar.
Nestes dias decidi fazer itinerários alternativos pelo Porto, que me permitissem descortinar uma outra cidade, mais criativa, inspiradora e espiritual, sobre os quais irei dar falar e sugerir para que possam descobrir.
Bar Espiga
Foi no Bar Espiga que decorreu o workshop de escrita criativa «A Palavra viajante», da Mad About Dreams. Este espaço tem imensas potencialidades, fica situado na Rua Clemente Menéres, 65 A, mas não é algo que salte à vista, nem esteja visivelmente identificado no lado exterior. Dentro do bar existe uma pequena livraria temática sobre viagens, «Muita terra» e ao fundo possui um pequeno terraço onde se pode tomar um café ou beber um copo num ambiente mais fresco e descontraído. Além de acolher eventos e workshops, possui também uma actividade regular intitulada «Viagem ao Mundo (sem sair do sofá)», que funciona como tertúlia e estimula a conversa em torno da arte de viajar.

Despedimo-nos e celebrámos a alegria de termos voltado a estar juntas. Sabe bem ter pessoas “sol”, assim na nossa vida.(continua)